Este espaço é dedicado à memória de José Francisco Zikán, meu avô, um naturalista apaixonado que trocou sua terra natal pelas matas exuberantes do Brasil, atraído por um fascínio incomum: as borboletas.
Nascido em 19 de março de 1881, em “Seis Casas”, na região de Teplitz-Schönau, Boêmia — atual Tchéquia —, José Francisco foi o primogênito de Francisco e Anna Zikán. Desde cedo, sua vida foi marcada por mudanças e aventuras. Aos oito anos, sua família se mudou para Chomutov, onde, na ausência de uma escola tcheca, precisou estudar em uma escola de língua alemã. Mais tarde, aos treze, estabeleceu-se na cidade de Dux, local de repouso eterno do lendário aventureiro Giacomo Casanova.
Seus estudos na escola Buergerschule foram interrompidos, como era comum à época, e José passou a viajar a pé por diversas regiões da Europa Central em busca de trabalho e aprendizado com a vida. Explorou a Baviera, conheceu cidades como Augsburg, Munique e Rosenheim, atravessou o Danúbio próximo à nascente e chegou ao Tirol. Visitou Viena e, por fim, retornou à Boêmia.
No entanto, sua curiosidade e espírito aventureiro não se aquietaram. Apaixonado por lepidópteros e já dono de uma modesta coleção, José Francisco decidiu embarcar em uma jornada ainda mais ousada: explorar os trópicos. Em 1902, partiu do porto de Bremen no navio “Wintemberg” e desembarcou no Brasil, chegando ao Recife em 14 de outubro. Seguiu viagem até o Rio de Janeiro e, em seguida, até São Francisco do Sul, em Santa Catarina, onde pisou em terra firme no dia 23 de outubro de 1902.
Essa jornada marcou o início de uma vida dedicada à natureza brasileira — especialmente às borboletas. Sua contribuição à entomologia foi significativa, tanto pelo trabalho de campo quanto pela inspiração que deixou para as gerações seguintes.